Teoria Tradicional de Ensino

10/05/2010 14:51

 Universidade Federal de Pelotas

Faculdade de Educação

Teoria e Prática Pedagógica

 

 

Teoria Tradicionalista

Lidiane Bilhalva Rodrigues

 


A visão tradicional, dentro de uma perspectiva humanista, de uma cultura conservadora (estável e fixa) e do conhecimento como fato, como informação, visão conservadora de escola e de educação.

É preciso ter claro como se define uma teoria curricular. Nas palavras de Silva (2001), ela se distingue pela forma como organiza seus conceitos para que possamos enxergar a realidade. Assim, as teorias tradicionais privilegiam no currículo: ensino, aprendizagem, avaliação, metodologia, didática, organização, planejamento, eficiência e objetivos onde fica visível a preocupação com questões de organização. Dentro dessa perspectiva, uma concepção tradicional de currículo estaria basicamente preocupada com a questão "como planejar um currículo”.

A escola no século XX sofre processos de profunda transformação, abre-se às massas e nutre-se de ideologia. Afirma-se como central na sociedade dá-se ênfase ao fazer enquanto as teorias se destinam a fundar e a dar substrato a essas práticas inovativas. É o ativismo que vem tentar substituir a tendência tradicional. Num movimento internacional assiste-se a uma reviravolta radical na educação, colocando a criança no centro da educação, numa tentativa de dar visibilidade as suas necessidades e as suas capacidades. Seria o fazer precedendo o conhecer, que deve vir do global para o particular.
Mas o que exatamente seria o currículo? Uma boa definição talvez fosse à de que o currículo é o conjunto de competências relacionadas ao ensino-aprendizagem, que determinam os objetivos a serem atingidos dentro de um sistema social determinado, ou até mesmo plano estruturado de disciplinas, conteúdos e avaliações que sejam condizentes com os objetivos do processo de ensino-aprendizagem a que uma instituição de ensino se propõe.
No entanto, tais definições não abarcam totalmente a noção socializadora a que um currículo comprometido com os parâmetros sociais e com as questões do ensino-aprendizagem se propõe, ou pelo menos deveria se propor.
O currículo tradicional está presente nas escolas brasileiras há muitos e muitos anos, desde o “descobrimento” do Brasil, quando foram trazidos para cá os jesuítas, a fim de catequizar os índios. Desde então o “primor e o rigor” da escola tradicional foram sendo cultivados em terras brasileiras durante décadas de colonização e muito depois dela. Nos tempos mais modernos, digamos século XX, quem não foi alvo da escola e do modo tradicional de ensino? Quem não conhece o ensino “decoreba”, maquinicista e acrítico a que fomos submetidos durante tanto tempo? Que aluno algum dia pode expressar suas opiniões durante uma aula, seja ela de que disciplina fosse? A teoria tradicional afirma que o currículo deveria conceber uma escola que funcionasse de acordo com uma empresa comercial, ou seja, voltada para a eficiência de seus operários (alunos), para a produtividade, a organização e o desenvolvimento dessa empresa, que nesse caso é a escola. No mundo capitalista que vivemos não há que se negar que também a escola é um empreendimento comercial, contudo, a sua função deve ir muito além da captação de recursos; e junto com essa noção vai também a de que o currículo escolar deve formar mais que pessoas prontas para o mercado de trabalho apenas, deve formar cidadãos capazes de interferir na sociedade de forma ativa, democrática, crítica e modificadora.
A questão do ensino-aprendizagem vai muito mais além de formar um indivíduo eficiente e com a maior quantidade de qualificações possíveis para o mercado de trabalho. Ser um cidadão participante e crítico requer muito mais competências, como por exemplo, aprender a trabalhar em grupo, reconhecer os direitos e deveres, ter noções de civilidade e respeito ao próximo. A demanda social atual requer muito mais do que um sujeito preparado para enfrentar as dificuldades de um mercado de trabalho cada vez mais seletor.
A disseminação das primeiras teorias tradicionais sobre o currículo se deu num contexto amplo e diversificado, tendo, como por exemplo, a burocratização e cientifização da educação, a popularização das escolas, a tentativa de resgatar a identidade nacional que se perdia devido o crescimento da imigração; o que significava um discurso tendencioso em torno da escola; e a industrialização e urbanização do país; o que denotava uma emergência em formar mão-de-obra especializada. Portanto, a institucionalização da educação das massas foi uma das prerrogativas para o estabelecimento do currículo tradicional. A urgência que surgia em dispor de mão-de-obra fez com que o ensino se popularizasse, o que não se configura num salto negativo, mas a maneira como esse ensino se popularizou e os caminhos ideológicos de dominação que ele tomou é que foram, grosso modo, retrógrados e estratificantes, de forma a estabelecer de maneira cada vez mais concisa dentro do sistema social a cultura da desigualdade e tantas outras “pragas sociais”.
O currículo que prima pelas formas de apropriação que um sujeito faz de suas vivências e conhecimentos oportunizados pelo espaço escolar está muito longe da concepção tradicional do ensino a que ainda somos muitas vezes submetidos. Daí trata-se de fazer uma reconstrução individual, diferencial de cada aluno, pois o modo tradicional de ensino fere a subjetividade de cada um, ao passo que tenta não só estratificar esse indivíduo dentro do sistema social, mas de fazer dele um “brinquedo do capital”. É fácil lembrar de um teatro de fantoches quando se pensa em currículo tradicional, porque é isso que cada sujeito interrompido e corrompido em sua subjetividade acaba se tornando: um boneco, um ventríloquo; e não é disso que a sociedade, no contexto no qual nos encontramos hoje, precisa.
O currículo tradicional se afasta da condição existencial de cada pessoa no processo de construção do conhecimento, ao invés de organizar o ensino partindo das leituras da realidade vivida pelos indivíduos com o objetivo de constituir conceitos, formas de linguagem e relações políticas, econômicas e sociais que estejam inseridas no cotidiano destes indivíduos.

 Bibliografia

FREIRE, P. Pedagogia da Esperança: um encontro com a pedagogia do oprimido. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1998.

SILVA, T. T. Documentos de Identidade: uma introdução às teorias do currículo. Autêntica: Belo Horizonte, 2001.